Matéria recomendada para microfoneiros de Crateús....que não leêm a noticia completa...e tiram conclusões maluquinhas...e opiniões infantis...
No último sábado, o autor deste site gravou participação em um programa
de debates da TV dos Trabalhadores (TVT) sobre política. Participaram
comigo da mesa de debates Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo,
jornalista e professor de Jornalismo da ECA-USP, e Renata Mielli,
jornalista e membro da diretoria do Centro de Estudos da Mídia
Alternativa Barão de Itararé.
Durante o programa, discutiu-se o papel supostamente mais
progressista que o jornal Folha de São Paulo vem adotando, com o maior
nível de pluralidade político-ideológica de seus colunistas. Lalo e
Renata rejeitaram certa percepção deste que escreve no sentido de que,
por conta dessa maior pluralidade opinativa, o jornalão paulista, de
alguma forma, seria melhor do que os outros grandes jornais.
Segundo Lalo e Renata, a maior pluralidade opinativa do jornal pode
até existir em suas páginas internas – e isso não vem de hoje –, mas,
tal qual os outros grandes meios da imprensa escrita nacional, a Folha
incorre no mesmo tipo de trapaça que seus concorrentes: manipulação de
manchetes de primeira página.
Os outros participantes do programa supracitado acertaram na mosca ao
me lembrarem desse “pequeno” detalhe que, aliás, venho mencionando há
anos em todos os fóruns de que participo e até nesta página.
Com efeito, na capital paulista, mais do que em qualquer parte, as
primeiras páginas dos jornais e as capas de revistas semanais constituem
um meio de comunicação à parte devido ao hábito pouco salutar dos
paulistanos de se “informarem” através de manchetes da imprensa escrita
que as bancas de jornal penduram do lado externo.
Funciona da seguinte maneira: o sujeito lê só a manchete de primeira
página e não confere a matéria a que ela remete. Daí, forma sua
“opinião” com base em uma frase e sai papagaiando manchetes desses
veículos que, via de regra, distorcem a reportagem.
Por conta disso, outros veículos ainda mais tendenciosos apostam alto
nessa venda de ideias curtas e prontas que, em segundos, implantam
teses de todo tipo na cabeça dos que abraçam essa “fast information”.
Foi o caso da revista Veja, que, ao longo da última campanha
eleitoral, distribuiu gratuitamente às bancas de jornal banners
gigantescos com acusações a Dilma Rousseff e ao PT que, lendo as
matérias da revista, ficava claro que não passavam de ilações.
Esse fenômeno ocorreu com a manchete principal de primeira página da
última edição dominical da Folha, que induziu o leitor à crença em que
há uma condenação esmagadora de Dilma pela sociedade por conta do caso
Petrobrás.
Como se vê na imagem acima, a manchete dizendo que “o brasileiro
responsabiliza Dilma por corrupção na Petrobrás é o que fica na cabeça
de quem passa pela banca de jornal, não compra a Folha e não lê a
legenda e o gráfico sob a manchete. Ou seja, a grande maioria passa
diante daquela banca de jornal e assimila uma ideia negativa sobre a
presidente da República.
A reprodução miniaturizada da capa da Folha (acima) permite entender
melhor a situação. Só é possível ver a manchete negativa para Dilma.
Note, leitor, como a frase é perfeitamente compreensível mesmo em uma
versão miniaturizada da primeira página do jornal, enquanto que todo o
resto fica ilegível.
Contudo, se o transeunte chegar perto da banca e parar para ler o
resumo da matéria, já começará a descobrir dados que a forma como foi
composta a manchete esconde.
Além de a legenda sob a manchete revelar que uma maioria esmagadora
de 46% dos entrevistados pelo Datafolha julga que Dilma combate muito
mais a corrupção do que seus antecessores – inclusive, mais do que o
ex-presidente Lula –, essa legenda ainda diz que a popularidade da
presidente passou incólume pelo tsunami de ataques políticos disparados
contra si após a eleição em segundo turno.
Aliás, ao lado da legenda, um gráfico mostra dado extremamente
negativo para o PSDB: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aparece
como sendo leniente no combate a corrupção. Com apenas 4% de
pesquisados que julgam que em seu governo a corrupção foi mais
combatida, FHC perde até para Fernando Collor, que 11% julgam que foi
quem mais combateu a corrupção.
Alguns dirão que essa primeira página da Folha em questão traz
informações que permitem ver que a manchete sobre a pesquisa Datafolha
não é adequada. Contudo, convido o leitor – sobretudo se for de São
Paulo – a ficar 10 minutos olhando para uma banca de jornal de algum
local movimentado para mensurar quantos efetivamente param para ler de
perto – e melhor – as capas das publicações expostas. Ficará claro que
uma mísera fração dos transeuntes age assim, o que significa que uma
maioria imensa acaba capitando só que a população está acusando a
presidente de ser culpada pela corrupção na Petrobrás.
Porém, mesmo para quem se deu ao trabalho de conferir de perto o
resumo da matéria que o jornal publicou na primeira página, a ideia de
que a grande maioria de 68% culpa Dilma pelos problemas na Petrobrás
permanece porque o gráfico com os percentuais dos que acham que a
presidente tem responsabilidade foi manipulado.
Vamos isolar o gráfico da primeira página e compará-lo com o que foi
publicado na página A4 do jornal, na matéria completa sobre a pesquisa.
Como se vê, o jornal achou pouco recomendável divulgar na primeira
página que apenas 43% julgam que Dilma tem culpa pela corrupção da
Petrobrás e que 45% julgam que ela tem pouca ou nenhuma
responsabilidade. Assim, juntou os 43% que acusam claramente a
presidente com os 25% que, aliados a outras respostas da pesquisa,
deixam ver que restringem a responsabilidade de Dilma porque acham que
ela combate a corrupção muito mais do que seus antecessores.
Dados adicionais da pesquisa mostram que os 25% que acham que Dilma
tem pouca responsabilidade pela corrupção na Petrobrás, na verdade
aprovam a conduta da presidente, de modo que não poderiam ter sido
agregados aos 43% que a condenam.
Um outro gráfico mostra que faz muito mais sentido unir os 25% que acham
que Dilma tem pouca responsabilidade pela corrupção na Petrobrás com
aqueles que aprovam sua atuação e julgam que ela não tem
responsabilidade alguma e que combate muito mais a corrupção que seus
antecessores. É o gráfico da popularidade da presidente.
O percentual de 42% julga o governo da presidente ótimo ou bom e se
coaduna com a soma dos percentuais que dizem que ela tem pouca
responsabilidade pela corrupção na Petrobrás (25%) e que não tem
responsabilidade alguma (20%).
Assim, 42% julgam o governo Dilma ótimo ou bom e 45% julgam que ela
tem pouca ou nenhuma culpa pela corrupção na Petrobrás, enquanto que 43%
a culpam pelos problemas na estatal.
Essa, pois, é a verdadeira pesquisa. Aliás, uma pesquisa
surpreendente, dado o tsunami de ataques que Dilma vem sofrendo,
inclusive com propostas de impeachment ou mesmo de ser derrubada por
golpe militar.
A Folha produziu uma farsa a partir de pesquisa que mostra que a
maioria da população que tem opinião formada sobre o caso Petrobrás está
apoiando as ações da presidente no combate à corrupção. O jornal chegou
ao ponto de manipular um gráfico na primeira página, apesar de tê-lo
apresentado corretamente nas páginas internas.